Vários dos lançamentos sobre Euclides da Cunha previstos para este ano não chegaram às prateleiras a tempo do centenário de morte do escritor. Felizmente, os organizadores das exposições dedicadas ao autor foram mais diligentes do que os editores. “Euclides da Cunha, uma poética do espaço brasileiro” abriu anteontem na Biblioteca Nacional (acima, foto do acervo da BN que mostra o homenageado em seu escritório), e “Euclides, um brasileiro” será inaugurada na quinta-feira, dia 20 de agosto, na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Ambas, como já dizem os títulos, exploram a ligação do escritor com o Brasil. Marco Lucchesi, curador da exposição da Biblioteca, explica que procurou enfatizar a comunicação da obra de Euclides com a cultura nacional.
— Tentamos desmistificar a ideia do Euclides como uma espécie de pedra belíssima, brilhante, mas que não dialogaria com o que está antes ou depois dela. Nos textos dele, há uma entrada muito importante de uma polifonia brasileira, das vozes dispersas do Brasil. Essa presença da fala popular insere Euclides numa linhagem literária que começa com o Machado de Assis de “Dom Casmurro”, em que Bentinho registra o pregão de um vendedor de cocadas, e continua depois com Guimarães Rosa — diz.
Entre as 130 peças reunidas na exposição — que se divide em três partes, sobre Canudos, os escritos amazônicos e a biografia — estão exemplares da primeira edição de “Os Sertões” com correções no texto feitas a mão pelo autor. Usando $pequena lâmina, Euclides raspou incorreções de todos os 1.200 exemplares da primeira edição, fazendo no total 160 mil emendas.
O poeta Alexei Bueno é o responsável pela exposição que será aberta quinta-feira na ABL. Obcecado desde a juventude pela Guer$de Canudos, ele trouxe para a mostra vários itens de sua coleção pessoal, como armas, balas, farrapos de bandeira e outros objetos. Ele diz, no entanto, que os itens mais importantes em exibição são os manuscritos, cartas e dedicatórias de livros, entre os $há material inédito.
— São documentos da própria ABL, alguma coisa da Biblioteca Nacional, do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, e, sobretudo, de coleções particulares — informa Bueno, avisando que não há muitas revelações biográficas nesses escritos. — O Euclides era um homem muito sisudo, muito sério, que praticamente não tem anedotário. Os comentários feitos nesses textos são referentes quase sempre à vida literária.
A exposição seguirá o percurso biográfico de Euclides, e tem ainda como destaque a famosa caderneta de apontamentos usada por ele em Canudos, cheia de desenhos, mapas e anotações feitas numa letra microscópica.
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