segunda-feira, 27 de abril de 2009

Conferência, parte 3.2 - final

Os passos de Euclides

No pen clube, Edmo Lutterbach encerra sua conferência falando sobre o auge e a prematura morte de Euclides da Cunha.

No ano 1884 ingressa na Escola Politécnica e, em 1886, é o cadete n° 308 da Escola Militar.   Excluído ao final de um biênio, parte com destino a São Paulo, volvendo em 1889, e ocorre sua reversão ao Exército. Em 20 de janeiro de 1891, vinte e nove de janeiro, obtém um mês de licença para tratamento de saúde e se retira para a Fazenda Trindade, de propriedade de seu pai, localizada em Nossa Senhora do Belém do Descalvado, interior de São Paulo, onde sofre a perda de sua filha Eudóxia, com poucas semanas de vida.

No ano 1892, conclui o curso de Estado-Maior e engenharia militar da Escola Superior de Guerra, em 8 de janeiro e recebe o Diploma de bacharel em matemática e ciências físicas e naturais no dia 16; e nomeado engenheiro praticante na Estrada de Ferro Central do Brasil – trecho São Paulo/Caçapava. Decorrido um biênio vai residir em Campanha (Minas Gerais), e na cidade mineira, nasce, em 11 de novembro, um filho, que recebeu o nome de Sólon Ribeiro da Cunha, em homenagem ao avô.

Deixa Campanha em 1895, rumo a Belém do Descalvado, Estado de São Paulo; pisa em 1897 nos sertões da Bahia para documentar a guerra de Canudos, adido à comitiva militar do Ministro da Guerra, Marechal Machado Bittencourt, como correspondente do jornal Estado de São Paulo. Aproxima-se de Queimadas a 1° de setembro; a 4 desse mês parte com destino a Monte Santo, aonde chega a 7, depois de percorrer Tanquinho, Cansanção, Quirinquiquá. No dia seguinte continua a viagem para Canudos, e  chega a 16. Acompanha o desenrolar da luta e, em outubro, torna a Salvador. Aí permanece dias; torna ao Rio. 

Em dezembro busca a fazenda do pai, no interior paulista. No ano 1898 profere, no Instituto Histórico de São Paulo, a conferência sobre a Climatologia na Bahia e segue para São Jose do Rio Pardo, no Estado de São Paulo, a fim de reconstruir uma ponte. No mês de novembro está em São Carlos do Pinhal e, em dezembro, removido para Guaratinguetá. Estabelece residência em Lorena, 1902, ano do lançamento de OS SERTÕES, livro que o conduziu, em 21 de setembro, à Academia Brasileira de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico dois meses à frente, com o beneplácito da crítica.   

Está com 37 anos de idade.    

Continuemos: instala-se no ano 1904 em Guarujá: é engenho-fiscal das Obras de Saneamento de Santos. No mês de abril exonera-se e a 9 de agosto, Rio Branco – o homem que ele admirava com toda  “sua majestosa gentileza”, homem de quem se aproximava “sempre tolhido, e contrafeito pelo mesmo culto respeitoso” e com quem conversava, discutia, franqueando-lhe o Barão “a máxima intimidade”, mas não havia meio de “considerá-lo sem as proporções anormais do homem superior à sua época – Rio Branco o nomeia Chefe  da Comissão do Alto Purus, o que o obrigou partir para Manaus a 13 de dezembro daquele 1904. 

A 15 de maio de 1905, alcança a boca do Acre. Volve ao Rio – 1906, e a 18 de dezembro empossa-se na Cadeira n° 7, da Academia Brasileira de Letras, patronímica de Castro Alves. 

Publica, no ano 1907, CONTRASTES E CONFRONTOS, também PERU VERSUS BOLÍVIA. A 2 de dezembro está no Centro Acadêmico 1 de Agosto, em São Paulo, proferindo a conferência Castro Alves e seu tempo. Conclui À MARGEM DA HISTÓRIA, 1908 e em 1909, submete-se ao concurso de Lógica do Ginásio Nacional. No mês de julho é nomeado para o cargo de catedrático; ministra a primeira aula a 21, e a última, em 13 de agosto. A 15 desse mês e ano, aos 43 anos, 6 meses e 27 dias, teve sua existência interrompida.

Sua morte abalou o Brasil; enlutou a cultura pátria.A primeira notícia divulgando a tragédia fora feita pelo então deputado Coelho Neto, na Câmara. Coelho Neto, o primeiro a ser chamado à Estrada Real de Santa Cruz, 214, para certificar-se do consternador episódio. 

No dia imediato, traduziu ele, naquele legislativo, sua fortíssima emoção, ao encontrar, “sobre uma cama de ferro, coberto por um lençol enxovalhado, o cadáver de Euclydes”. E confessou: “pareceu-me, de improviso, que eu estava entrando, páginas a dentro, pela obra do grande mestre grego, tendo à frente de meus olhos o episódio de Átrides; era um trecho de Oréstia, tal a grandeza da tragédia.”   E sentindo faltar-lhe, quase, as expressões, exortava que o Brasil acompanhasse o grande espírito de Euclydes da Cunha, como o povo de Israel acompanhava a ascensão dos anjos – primeiramente para o céu de Deus –, em que haveria de ficar perenemente vivo o espírito que residiu no corpo do homem mártir desaparecido.  É com grande saudade – prosseguiu – “é com grande saudade que eu, amigo de Euclydes da Cunha, falo à Câmara dos Deputados: é com pesar que eu, brasileiro, me refiro a este nome; é com gratidão de sertanejo, com a minha alma de filho das terras interiores deste país, que agradeço àquele beneficiador dos simples, um livro primoroso”.  

José Maria da Silva Paranhos do Rio Branco, em carta pai de Euclydes, externou-lhe a sua dor, o seu sentimento:      “Atordoado pela nossa grande desgraça do dia 15, não pude dirigir-lhe antes palavras de amizade, de simpatia e de conforto; o terrível golpe que feriu seu coração de pai, feriu igualmente o meu coração de amigo e sincero admirador dos grandes dotes intelectuais e morais do seu nobilíssimo filho; sei quanto perdi de sincero afeto com o desaparecimento desse bom amigo e companheiro de trabalhos; sei o quanto de esperanças fundadas perdeu o Brasil (Rio Branco e Euclydes da Cunha, Imprensa Nacional, 1946, p. 73).     

Posteriormente, ainda em 1909, Rio Branco, fazendo o necrológio de Euclydes no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, enalteceu-o com o título de “intrépido explorador do Alto Purus; homem que tanto prometia enriquecer ainda a nossa literatura, homem de delicado pundonor que sempre foi, e cuja pureza de sentimentos e alto valor intelectual pude conhecer de perto nos breves anos de convivência e de estudos, de trabalhos e de esperanças patrióticas, homem que foi vitimado, no vigor da idade, numa terrível tragédia”. 

Também nós, cem anos depois, repetimos com idêntica franqueza as palavras de Rio Branco: também nós sabemos o quanto de esperanças fundadas perdeu o Brasil com a morte do extraordinário fluminense que se chamou Euclydes da Cunha.             


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