Vocês sabem que eu fiz um blog para ser um laboratório de textos e um espaço para divulgar meus trabalhos – não um diário. No entanto, abro uma exceção para falar sobre os rumos do projeto Quatro Cantos de Euclides, que vem rendendo um misto de entusiasmo com frustração.
Entusiasmo por acreditar no livro como obra de arte e como produto cultural. Por ver que grupos inteiros de músicos e de atores dedicaram com amor e tempo aos ensaios para a execução do espetáculo Cantos de Euclides, na Flip. Ao receber as amostras das ilustrações revolucionárias, presentes no livro Quatro Cantos de Euclides, feitas pelo Miguel. Ao ver o entusiasmo de alguns professores universitários e de parceiros conhecidos e desconhecidos...
Frustração pela falta de visão dos empresários, que podem investir na idéia sem pagar um tostão e que, por pura má vontade, nem se dão ao trabalho de ler uma proposta. Por constatar que a educação, a leitura, a cultura e a memória do país ficam sempre em último lugar.
Mas, vendo os fatos com olhos também mesquinhos, até entendo o motivo para esta jogada de escanteio. Falar de Euclides da Cunha é estimular a visão crítica, é reconhecer que os textos de mais de 100 anos atrás continuam atuais, que crescemos apenas nas aparências, que continuamos vivendo nos sertões, onde homem explora homem, onde os recursos naturais são vendidos por bananas... (...)
Como aperitivo, posto aqui a Canção III, a moda de viola, que fala sobre a viagem que Euclides fez a Amazônia:
Segue o rumo do norte
Não é culpa da sorte
Se sente sozinho...
Quantas folhas na mata
Emolduram as águas
Que levam o caminho?
Caso o barco encalhe
Caminha e repara:
É verde a palmeira.
Não é culpa da sorte
Se sente sozinho...
Quantas folhas na mata
Emolduram as águas
Que levam o caminho?
Caso o barco encalhe
Caminha e repara:
É verde a palmeira.
As saudades escorrem
Como a borracha
Sai da seringueira.
Amazonas, veja entrar,
Os intrusos
No salão.
Se não tem muros,
Sua prisão
O que é que prende
Aqueles que vivem
Da escravidão?
Como a borracha
Sai da seringueira.
Amazonas, veja entrar,
Os intrusos
No salão.
Se não tem muros,
Sua prisão
O que é que prende
Aqueles que vivem
Da escravidão?
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