quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cinzas da Semana

A professora Maria Olívia Garcia escreveu um texto sobre a 99° Semana Euclidiana, ele foi publicado no jornal Democrata e o disponibilizaremos aqui em nosso blog também. Leia a seguir o texto na íntegra.


Cinzas da Semana - Por Maria Olívia Garcia

Mais uma Semana Euclidiana vencida, tudo volta à rotina escolar comum... Momento de avaliação e de reflexão.

Ainda sinto haver perdido a apresentação da ópera Carmem, ocorrida em dia letivo, impossibilitando-me de ver o espetáculo. Ainda me incomoda o silêncio dos ausentes na conferência do dia 14, que deveria ter sido o ponto culminante da Semana, o “fecho de ouro” do Ciclo de Estudos Euclidianos... Fico pensando se não idealizamos demais quando consideramos esta cidade como “Berço da Cultura Euclidiana”... Estamos rareando. Somos poucos e há uma eternidade pela frente... Quem carregará essa tradição no futuro?

Um salão quase vazio... Ausências importantes e sentidas, como a do professor Márcio, cujo estado de saúde lhe impossibilitou o comparecimento naquela noite. Cadeira vazia à mesa... Ausência do prefeito, que se fez representar... Do professor Nicola, que foi embora no dia 13... Dos professores e pesquisadores que antes aqui compareciam em grande número, e que nunca mais vieram... (Lembro-me de quando se faziam presentes à mesa autoridades como o Juiz de Direito, o Promotor...)

Muitos lugares vazios na plateia, o que me chocou logo ao chegar ao salão do Ítalo. Professor Rodolpho Del Guerra, exemplo de civilidade e euclidianismo, sempre presente na sua simplicidade. A conferencista Lea Santana veio da Bahia e apresentou brilhantemente sua pesquisa como doutoranda, mas, afinal, quantos se interessam pelo assunto ultimamente?

Creio ser urgente compreender essa mensagem do silêncio dos ausentes, pois, como explica Eni Orlandi, nele também há vozes que falam e podem ser mais veementes do que aquelas que se mostram explicitamente! Não se podem realizar eventos para um público imaginário, ideal, que vive em nossas recordações. É preciso optar por uma das alternativas: ou se reúne um público ideal para a ocasião, ou se promovem mudanças necessárias à atualização do evento! Fica a reflexão, não posso digerir tudo isso sem questionar.

Mas vamos aos heróis anônimos, ou nem tanto: existem pessoas cujo mérito deve ser reconhecido, pois são elas os pilares desse Ciclo de Estudos Euclidianos, em uma época em que “ninguém mais lê, ninguém mais pensa, ninguém mais escreve”...

Eis os nossos companheiros de luta, pelos nomes como são mais conhecidos, aos quais presto o meu reconhecimento: Celinha Franchi, Majella, Stênio, Nicola Costa, Rachel Bueno, Cidinha Granado, Rosângela Gomes, Guilherme Félice, Paulo Herculano, Marco de Martini, Lázaro, Marco Aurélio, acrescidos dos mais recentes: Renaldo, Leandro Leal e Fabiana (de Cantagalo). Neste grupo também há representantes do meio acadêmico, que permanecem fieis, independentemente de obstáculos, trabalhos em suas instituições ou distância a vencer. São eles os professores-doutores: Fadel, da UNESP, Pedro Lima, da PUC-SP, Marleine de Paula, da USP e ESPM, Anabelle Loivos, da UFRJ, Luís Fernando Sangenis, da UERJ, e, mais recentemente, Anélia Pietrani, da UFRJ, presenças imprescindíveis e importantíssimas para o movimento.

Uma prova de que essas pessoas são imprescindíveis ao movimento euclidiano são as ações desenvolvidas pelo grupo que vem do Rio de Janeiro, a partir do projeto “100 anos sem Euclides”, idealizado por Anabelle, Luís Fernando e Anélia, com a participação efetiva da professora Fabiana: oficinas pedagógicas, Projeto Verdes Caminhos de Euclides da Cunha; Curso de extensão: Letras verdes em Euclides da Cunha, livro Quatro Cantos de Euclides, ponto de cultura Os serões do Seu Euclides, concurso internacional de Trovas sobre Euclides, desenvolvimento de material didático para alunos, apoio a professores, enfim, várias atividades que se concretizaram rapidamente e que conseguiram parcerias importantes, como estas: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência, Grupo Euclidiano de Atividades Culturais (Cantagalo-RJ), Casa de Euclides da Cunha de Cantagalo-RJ, Instituto Cultural Oswaldo Galotti, UNESCO, FUNARJ SESC-RJ, Fundação Universitária José Bonifácio – FUJB, Banco do Brasil, Fundação Nogueira Tapety, cademia Brasileira de Letras, Coletivo Teatral Sala Preta (Barra Mansa-RJ), Câmara Municipal de Cantagalo, de hotéis, escolas particulares, do Clube Naval e de empresas como a Votorantim.

Parcerias como essas são fundamentais para que projetos culturais possam obter sucesso. Parabenizo os que encabeçam esses trabalhos, pelo dinamismo e capacidade de fazer as coisas acontecerem! Confesso que gostaria de estar aí com vocês!

Continuo lutando para o crescimento da Área III, de universitários, pois seus componentes é que lerão Euclides e formarão novas gerações a sustentar “nosso” Ciclo de Estudos. É preciso divulgar a programação da Semana Euclidiana nas universidades até o mês de maio, para possibilitar a esses graduandos e pós-graduandos o necessário trâmite de papeis para efetivarem as inscrições e prepararem seus trabalhos para apresentação. Repito, esta participação é de suma importância à saúde do movimento euclidiano. Sou contra o provincianismo, que poderá sufocar e exterminar essa tradição, por não ter a capacidade de fornecer todo o contingente necessário à renovação de pessoas e ideias.

No sábado, dia 13, houve a concorrida palestra abrilhantada pelo Dr. Paulo Gaudêncio, dinâmica, interativa e com significativo envolvimento da plateia, revelando um modelo didático a ser copiado. Nela houve a significativa participação da professora Marleine de Paula e a intervenção de Alvinho, importante para que surgisse a discussão, sempre necessária ao dinamismo e aperfeiçoamento dos pontos-de-vista debatidos.

No dia 14, quem não foi perdeu a belíssima apresentação de Maria Teresa Ratti de Oliveira, ao piano, Andrezza Berezeski dos Santos, na flauta transversal, e Jota Lobo, no saxofone. Importante também a presença do ex-diretor da Casa Euclidiana, Álvaro Ribeiro de Oliveira Neto, pois é imprescindível essa junção de forças para o sucesso do movimento. Lúcia Vitto, firme e forte, à frente de todos esses eventos, que contaram com o apoio técnico de Nelsinho, Eliana Dipe e outros da equipe, como também a eficiente e silenciosa organização de Isa Longo, nos bastidores, devido à dedicação aos problemas de saúde de seu pai. Às funcionárias da Casa Euclidiana, parabenizo pelo eficiente trabalho desempenhado durante o Ciclo de Estudos.

Concluo lembrando a importância de todos os envolvidos em manter viva essa tradição, desde o desfile até o encerramento, pois é fundamental a divulgação da mensagem euclidiana, alardeando possibilidades de transformações sociais, uma vez que ainda – e mais do que nunca - “precisamos de uma política sadia, que restaure as esperanças dos fortes e dos bons, estimulando a alma nacional pelo regime franco do triunfo das competências.”

À sociedade em geral, fica o convite a um maior engajamento nessa luta, única a levar o nome de São José do Rio Pardo a dimensões nacionais e internacionais. Que o próximo ano consiga realizar o centenário dessas comemorações com o apoio efetivo de empresas que investem em cultura e educação e de instituições culturais de renome!


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