PELA CONTINUIDADE DO CURSO DE LETRAS EM EUCLIDES DA CUNHA
Por Lea Costa Santana Dias - UNEB
Em Cantagalo, cidade natal do escritor Euclides da Cunha, são inúmeras as ações em sua homenagem: o Centro de Estudos e Pesquisas Euclides da Cunha; o Museu Casa Euclides da Cunha, que abriga o encéfalo do escritor desde 10 de setembro de 1983; e o memorial Euclides da Cunha. No brasão da cidade, estão estampados um livro e uma pena, simbolizando a homenagem do município a seu filho mais ilustre. Em 2009, ano do centenário da morte de Euclides, ocorreu entre os dias 25 e 27 de setembro o Seminário Internacional Cem Anos sem Euclides, no qual estiveram presentes euclidianos renomados, e um número considerável de discentes do Campus XXII da UNEB, que foram responsáveis por um terço das comunicações e pôsteres apresentados durante o evento.
Em Salvador, onde Euclides da Cunha morou de 1877 a 1878, há o CEEC – Centro de Estudos Euclides da Cunha, órgão pertencente à Universidade do Estado da Bahia, que tem se dedicado a pesquisas documentais e no cenário da guerra.
Em São Paulo, duas cidades homenageiam o escritor: Euclides da Cunha e São José do Rio Pardo. Nesta última, Euclides conduziu os trabalhos de reconstrução de uma ponte que desabara e escreveu boa parte de Os sertões. A casa onde ele viveu foi transformada na Casa de Cultura Euclides da Cunha. O hino da cidade, com letra e melodia de Ilse Sebastiana de Paiva Manita, oficializado pela lei municipal nº 776, de 18 de outubro de 1971, é um canto de louvor a Os sertões – assim como também é o hino de Euclides da Cunha, na Bahia, de autoria do poeta José Aras, idealizador da mudança de nome de sua cidade natal, antigo Cumbe, para Euclides da Cunha. Conhecida nacional e internacionalmente como a “meca do euclidianismo”, São José do Rio Pardo abriga as célebres Semanas Euclidianas. Em 2012, o movimento euclidiano celebrará o seu centenário. Na cidade, às margens do rio Pardo, encontra-se o recanto euclidiano, onde estão localizados o mausoléu, com os restos mortais do escritor Euclides da Cunha e de seu filho Quidinho (Euclides da Cunha Filho); a cabana de sarrafos e zinco, onde Euclides teria escrito trechos de Os sertões, atualmente protegida por uma redoma de vidro; e a ponte metálica, reinaugurada em 18 de maio de 1901. Em 18 de maio de 1918, foi inaugurada a herma, o primeiro monumento do Brasil a homenagear Euclides da Cunha. Em 15 de agosto de 1925, o poeta Martins Fontes, em palestra no recanto euclidiano, sugeriu que aquele dia fosse consagrado a Euclides. Em setembro do mesmo ano, o prefeito da cidade sancionou projeto da Câmara, consagrando o 15 de agosto como o dia de Euclides da Cunha. Em 14 de novembro de 1925, foi fundado o Grêmio Euclides da Cunha de São José do Rio Pardo. Em 30 de novembro de 1937, o Serviço do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional tornou a cabana monumento nacional. Em 1939, o professor Hersílio Ângelo instituiu a maratona intelectual euclidiana. Em 1966, foi criado o ciclo de estudos euclidianos. Em 1982, foram trasladados do Rio de Janeiro os restos mortais de Euclides da Cunha e Euclides da Cunha Filho, e sepultados no mausoléu em 15 de agosto.
Em Canudos, há o Memorial Antonio Conselheiro e o Parque Estadual de Canudos, fundado a partir do Decreto Estadual 33.333, efetivado em junho de 1986, ficando sob a responsabilidade da Universidade do Estado da Bahia, que iniciou as pesquisas arqueológicas em 1986, e publicou o Relatório de Arqueologia Histórica de Canudos em 1997. Eventos e atividades significativas têm acontecido na cidade.
Enquanto em Cantagalo (RJ) e em São José do Rio Pardo (SP) as homenagens ao escritor acontecem desde longa data, e em Canudos as atividades culturais vêm tendo um crescimento progressivo nos últimos anos; em Euclides da Cunha, na Bahia, pouco se tem feito em termos de eventos e ações culturais. O belo hino do poeta José Aras parece esquecido por boa parte dos euclidenses. O monumento em homenagem ao escritor, localizado na Avenida Rui Barbosa, é algo um tanto inexpressivo, se comparado aos muitos monumentos espalhados pelo país em homenagem ao escritor e sua obra. O curso de Letras da UNEB é uma das poucas oportunidades oferecidas à cidade para que (re)assuma sua história e as inequívocas relações com o movimento de Canudos. É fundamental para a cidade, portanto, não apenas a continuidade do Curso de Licenciatura em Letras, mas também o fortalecimento de ações que promovam a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Somente um Curso nestes moldes seria capaz de se tornar um veículo verdadeiramente eficiente para o diálogo entre nossos estudantes e professores de Euclides da Cunha e cidades circunvizinhas. O diálogo é possível e necessário não somente com professores que atuam no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, mas também com aqueles que atuam no Ensino Infantil, já que nosso Departamento, a partir da disciplina “O estético e o lúdico na literatura infanto-juvenil” e de outras relacionadas à prática pedagógica, tem realizado atividades relevantes, visando à melhoria da qualidade de ensino na região.Pesquisas importantes têm sido feitas no Curso de Letras do nosso Departamento. Nossos alunos e ex-alunos tanto têm apresentado trabalhos em eventos acadêmicos, como têm divulgado o resultado de suas pesquisas através de publicações. Pesquisas importantes também têm sido feitas por alunos de outros programas da UNEB, como é o caso do Programa UNEB 2000, no qual atuei como orientadora de alguns TCCs defendidos por discentes da última turma a concluir o Curso. Por esta razão é que se faz necessária e urgente a implantação dos nossos Cadernos de Pesquisa, visando à divulgação e publicação dos resultados de trabalhos acadêmicos desenvolvidos por professores, funcionários, alunos e ex-alunos dos cursos e programas gerenciados pelo DCHT – Campus XXII. Pelo mesmo motivo, também é imprescindível a realização de eventos acadêmicos, a fim de potencializar a divulgação de nossas pesquisas e promover o intercâmbio e o diálogo com pesquisadores de outros departamentos da UNEB e de outras universidades.
Por outro lado, não se fazem pesquisas sem livros – o que torna impreterível a necessidade de ampliação do número de exemplares disponíveis para pesquisa em nossa biblioteca, que devem atender não apenas aos discentes do Curso de Letras, mas também a todos os outros matriculados nos cursos e programas gerenciados pelo DCHT – Campus XXII, como os cursos do programa Plataforma Freire e os cursos do programa de educação à distancia, que atualmente, em relação à material disponível para pesquisa, encontram-se em situações ainda mais desfavoráveis que os discentes matriculados em Letras.
A história da nossa região interessa ao Brasil e ao mundo. É importante que nós, euclidenses e moradores de cidades circunvizinhas, também passemos a nos interessar por nossa história e a sentir orgulho do que somos e do que temos. Para o desenvolvimento cultural e intelectual da região, além da continuidade do Curso de Letras no Departamento, os outros cursos oferecidos atualmente também precisam/devem ser melhorados/aperfeiçoados. E não apenas isso: nossa cidade merece mais! Nós estudamos... Nós pesquisamos... Muitos de nós deixamos e/ou deixam nossos lares e nossas famílias à procura de acesso à educação em outras cidades e regiões. Que outros cursos, além de Letras, são fundamentais ao desenvolvimento da região? O que queremos? De que precisamos? São questões a partir das quais se convida nossa comunidade à reflexão...
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